Completo 42 anos. “Este reveal etário faz de mim uma sem vergonha?”, é o tipo de pergunta que uma mulher se faz com alguma regularidade. (Os leitores mais atentos teriam feito as contas e deduzido minha idade anyways, de modo que decido não me importar. Mas, numa mulher, tem de ser uma decisão: revelar suas inseguranças nunca vai no automático.)
Dormi mal nesta noite e estava a pensar: seria tão bom se eu conseguisse simplesmente escrever! Poderia escolher um assunto e desenvolver um argumento. Escolher uma coisa que quero dizer e simplesmente dizê-la. E decidi me dar de presente de aniversário essa atitude mais robusta. Há várias coisas que eu poderia dizer hoje, e o tema escolhido pode parecer aleatório — até a mim me pareceu, quando o concebi —, mas é algo que já está na minha cabeça há algumas semanas. O tema são as inseguranças da mulher e os trade offs da realidade feminina.
Adianto que gostaria de escrever muito mais aqui sobre esse assunto, e que o texto de hoje é apenas uma pincelada inicial.
Freud não explica
Freud confessou, consternado, não ter a menor ideia do que quer uma mulher. Quem não sabe, não explica. Suspeito que, como Freud, a esmagadora maioria dos homens tampouco entenda o que quer uma mulher (veja que digo uma mulher, e não “as mulheres”). Como admitir ignorância para um homem dói demais, muitos nos classificaram como seres inferiores, num grau abaixo na escala de humanidade, posto que menos desarraigáveis da natureza telúrica.
É verdade que nem as próprias mulheres, e esse é o verdadeiro problema, sabem direito o que querem. Na verdade, o mais difícil para uma mulher é saber o que ela realmente quer. Agora, se olhamos de novo e prestamos bastante atenção, não é muito difícil perceber que, quando não sabem direito o que querem, o que as mulheres realmente querem é aprovação. Querem aprovação sem admitir, muitas vezes. Querem aprovação porque são inseguras de si mesmas. (Não estou interessada em provar nada, apenas declaro o que vi e me pareceu.)
Embora não admitam nem para si, aprovação é o que as mulheres estão buscando, quando não sabem o que querem. E vou além: é muito difícil ser mulher e não querer aprovação. É muito difícil, para uma mulher, ultrapassar essa motivação. A benção dos pais, a benção do marido, o amor dos filhos até — para não falar no pior, o olhar das amigas (que, às vezes, se assemelha ao de inimigas)! A mulher, e isso vale para todas as mulheres, não quer ser criticada, não quer ser socialmente julgada. Ela precisa de segurança.
Quando uma mulher depende de aprovação para ter segurança, é difícil para ela ser sincera consigo mesma. Se admite o que nem descobriu ainda, mas acha que quer, corre o risco de desagradar. No entanto, essa sinceridade é imprescindível para o desenvolvimento do caráter feminino. Quando uma mulher identifica o que é realmente importante e começa a viver de acordo com isso, passa a tornar-se uma pessoa só, enquanto antes havia várias pessoas convivendo ali, dentro dela. Isso, porém, pode levar um bom tempo para acontecer.
Vozes da minha cabeça
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